sexta-feira, 18 de julho de 2014

O meu Iberovespa (P1)

Planeei férias para aquela altura. Preparei-me a mim e a elas antecipadamente e saíria cedo em outras circunstâncias. Deixei a Pequenita na Escolinha e regressei a casa para prender as poucas tralhas ao Vespão. São tão habituais que é só descê-las da prateleira e soprar-lhes o pó da última viagem com pernoita...
De manhã cedo o sol ainda mostrou um ar da sua graça, mas quando descia a scooter da N.P.G.L.C. caem os primeiros pingos parvos. Não havia de ser nada; pensei eu. Visto só as calças do fato de chuva e a parka ampara umas gotinhas, mais do que isso não haverá. Errado! À primeira curva, o aguaceiro forte! Debaixo da parka, nem com 5 kms rolados, senti varar a água para a t-shirt; único pano entre a parka e a minha pele. Faltavam 30 kms para a primeira paragem planeada e debaixo do primeiro viaduto, retirei o casaco do fato de chuva de trás da roda suplente. Podia tão bem tê-lo vestido logo à saída da N.P.G.L.C.! Vesti-o com as costas viradas para a frente e ficou preso só com as alças da mochila. Estava já encharcado junto aos cotovelos. Na primeira paragem, pouco antes de Anadia, troquei os panos. E o casco que me vinha protegendo a cabeça há largos anos, foi substituído logo ali, na Fábrica da CMS. Tirei as primeiras fotografias e a perplexidade dos trabalhadores dali, perante um inconsequente motociclista montado numa lata com mais de quarenta anos, não me demoveu da viagem. Já havia viajado assim várias vezes e tolera-se bem. Siga!
 

Depois de Vila Nova de Poiares e Góis acalmou a chuva. Mas a estrada encharcada e a quantidade de curvas fez mazela. Mossa. Literalmente. Antes de Penacova havia um desvio na estrada principal, que direccionava ao centro da vila que tão bem conheço. Ao voltar ao itenerário, numa das mais íngremes ladeiras junto ao Mondego, desço devagar e atravar com o motor; ia a uns cinquenta metros do único carro da frente... travava ligeiramente enquanto o motor segurava a descida, mas eis que repentinamente a roda de trás escorrega e começo a ver a traseira da mota a passar por mim... vou me enfiar debaixo do carro, pensei que acabaria ali a viagem... páro a centímetros do carro parado no cruzamento! O que me fez parar milagrosamente foi o descanso lateral! Falta-lhe um bocado. Ficou no alcatrão, comido pela abrasão, mas parei. A inclinação da descida e o inclinar da mota durante a atravessadela, fizeram do descanso travão e ainda bem. Saltou o saco-cama do local e o condutor do carro saiu logo em meu auxílio. Estava tudo bem. Recompus-me debaixo daquela chuvada forte e grossa. Ufa! Siga!
 
Já depois da Pampilhosa da Serra, sem chuva mas com rajadas de vento fortes e com o cansaço provocado pela condução minuciosa... já não chegava um susto e eis que tenho outro!!
Numa curva larga e a descer, sou presenteado com mais uma atravessadela provocada pelo excesso de água, que vinha da encosta e escorria pela estrada; quando parecia controlada... a mota chicoteia e manda-me para os rails do lado direito! Com o susto, travo e inclino a mota, preparado para ir ao chão. Escorregando pelo asfalto ia-me rasgar todo, abrasava a lateral toda e podia-me entalar nos rails... mas eram protegidos até baixo naquela zona de curvas e contracurvas. Estas merdas passam-se em fracções de segundo! Não sei como e com um perna de fora, amparei-me neles com a carga que levava na frente da mota e presa ao avental; fiz uma pequena mossa no ballon direito e parti o friso. Menos mal. Parei! Não me magoei. Benditas Dr. Martens! Olha se ia de sapatilhinhas da moda ou chinelinho da praia? Ufa! Siga! (2)
 

Cheguei bem e em Janeiro de Baixo já havia movimentações. Revi os suspeitos do costume. Montei a tenda virada para o Rio Alva e deambulei por ali. Ao fim do dia dei por mim a acender uma churrasqueira ("Epá o Testa não vem quem é que vai prá grelha? - Eu vou!") e a grelhar uma centena de bifes e barriguinhas para o jantar de boas vindas. Ia chegando muita gente já noite cerrada. Valeu a bucha e a cervejinha da bica do VCL. Choveu muito e quando fui para me deitar, tinha a tenda encharcada. Nunca iria adivinhar que por baixo dela era o percurso habitual da água, que saía do tubo das caleiras do telhado do Bungalow das emediações. Valeu a hospitalidade do Pica Metálico aka: Nelson dos Algarves. Obrigado pela pernoita também ao Billy e ao Serra. Dormi quente e seco no Bungalow deles. O dia amanheceu solarengo.
 
 

 
Depois do pequeno almoço volante ali no Parque de Campismo, um cafézinho para despertar antes do passeio pelas belas redondezas e serranias da zona.
 




 
 
 

Dezenas de Vespa e algumas LML e Lambretta, subiam estrada acima em direcção à Pampilhosa. A cena mais chata nestes passeios, com largas dezenas de motoretas a dois tempos, é só e apenas a enormidade de fumaça que fica enquanto circulamos em bloco e a baixa velocidade.
No centro da Vila encontrei estes dois amigos de Aveiro que passavam ali a caminho de Cáceres. Confraternizaram connosco...
 
 

 

Foto da Praxe com a rapaziada toda e uma manhã solarenga...
 



 

Rolar... Curtir uma curvas em boa companhia e conhecer aquelas terrinhas que tão bem nos receberam. O almoço foi onde vocês já sabem e até há por aqui no Vermelho Sangue um Postal só dedicado à Aldeia de Fajão.
 
 

Foto intergeracional. Pilotos e máquinas, literalmente!

1 comentário:

  1. Isso é que foram sustos ! Tive pena de não ir ao encontro do meu clube, mas o Lés a Lés não me deixou ir. Janeiro de Baixo é uma maravilha, as curvas são para todos os gostos e o rio é inspirador. E adivinha onde descobri Janeiro de Baixo ? Pois, no Lés a Lés.

    Abraço,
    Vasco

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